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Guia introdutório da tokenização

Guia introdutório da tokenização

Os tokens, como as criptomoedas e os NFTs, são o eixo do ecossistema cripto, mas as possibilidades oferecidas pela tokenização via blockchain são infinitas.

Luana Miyuki
Content Analyst
21/12/22

O que é um token

Um token ("fichas" em inglês) é um objetivo físico ou digital que representa valor ou utilidade para uma determinada comunidade ou em um determinado ambiente, independentemente de ter ou não esse valor devido ao material de que é feito. Ele depende, portanto, do consenso entre aqueles que participam daquele grupo ou contexto que concordam em reconhecer o seu valor. 

Um exemplo são as fichas de cassino: uma de US$ 100 não vale, por si só, esses US$ 100; mas os clientes e funcionários concordam que tal círculo de plástico equivale a US$ 100, pelo menos dentro do cassino. O que acontece com as cédulas é semelhante: uma nota de RS 100 representa essa cifra nas lojas do Brasil, embora o seu custo em papel e tinta seja menor que esse valor.

Em suma, os tokens representam outra coisa. Nas operações comerciais e financeiras há muitos motivos para se usar objetos que substituem o original, como é o caso dos tokens digitais por causa da comodidade em transportá-los, a facilidade em transferi-los e a sua camada extra de segurança que não expõe a informação ou o seu ativo de base. 

Evolução do conceito e o uso dos tokens 

O uso de tokens ou fichas não só é anterior às criptomoedas, como também é anterior às moedas fiduciárias em todo o mundo. Na Roma antiga, usava-se fichas de metal como entrada para os bordéis. Além disso, os mosteiros medievais pagavam por reparos e outros serviços com fichas. Durante os séculos XVII e XVIII, o comércio entre os Estados Unidos e o Império Britânico também era feito com vouchers (vales). 

Mas, mesmo depois que o dinheiro oficial apareceu, os tokens continuaram a ser usados em campos específicos. Os de transportes, chamados "cospeles", valiam uma viagem; e os de estacionamentos, máquinas de videogame e cassinos são usados até hoje, sempre pelo mesmo motivo: representam valor ou utilidade dentro de um ambiente ou para uma determinada comunidade. 

Agora, com o desenvolvimento da computação e da internet, os tokens digitais estão se tornando mais populares e frequentes, podendo ser desde itens de videogames ou créditos para plataformas digitais, até tokens de segurança 2FA que permitem usar aplicativos ou códigos QR que estão se tornando comuns em ingressos de cinema, shows e eventos esportivos. 

No entanto, os tipos de tokens mais revolucionário hoje em dia são os tokens cripto. 

Os tokens do ecossistema cripto 

No mundo blockchain, os produtos mais típicos, como as criptomoedas e os NFTs, são tokens com valor ou utilidade em cada comunidade ou projeto. Na verdade, NFT é a sigla para "tokens não fungíveis" (único e indivisíveis, como músicas ou pinturas), enquanto que as criptomoedas são tokens fungíveis (equivalentes, intercambiáveis e divisíveis, como reais ou dólares). 

No ecossistema cripto existem muitos tipos e usos diferentes de tokens: alguns servem como tickets, outros como vouchers e outros representam algum ativo. Alguns têm valor econômico e outros não, mas oferecem alguma utilidade. Existem aqueles que possuem funções específicas e os que cumprem quase todas as funções ao mesmo tempo. 

Todos esses tokens são gerados a partir de um código de programação escrito em formato de contrato inteligente e são utilizados nas redes blockchain, podendo funcionar como tickets de entrada, voucher de participação em uma assembleia, dinheiro digital, colecionáveis ou como meio de troca por outros produtos cripto ou serviço Web3. 

Por exemplo, o Ripio Coin (RPC) é um token que tem valor econômico, mas que também possui utilidade para os usuários da Ripio: obter descontos nas comissões ao operar na plataforma. 

Diferença entre tokens e criptomoedas

Embora todos sejam tokens, no ecossistema cripto o conceito de token é utilizado para aqueles que funcionam em uma outra blockchain ou em uma pré-existente, como as stablecoins USDT e DAI ou as altcoins como SHIBA (Shiba Inu) e UNI (Uniswap), que rodam na rede Ethereum. 

Por outro lado, os tokens que funcionam em blockchain própria são designados com o conceito mais específico de criptomoedas, como é o caso do Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Solana (SOL) e Cardano (ADA)

A tokenização de ativos via blockchain

A tokenização cripto permite a representação de ativos físicos ou digitais por meio da criação de tokens, geralmente em uma rede, que também é um banco de dados, conhecida como blockchain. Esta tecnologia, que é a mesma que faz as criptomoedas funcionarem, assegura a confiabilidade e a imutabilidade dos dados associados ao token, como a sua autenticidade ou a quem pertence. 

É perceptível, principalmente no caso dos NFTs (tokens não fungíveis), como eles estão transformando as noções de propriedade e a gestão de ativos. Um exemplo é como esses tokens permitem que artistas digitais e criadores de conteúdo de todos os tipos transformem os seus trabalhos em tokens ou em pacotes de dados digitais que podem ser vendidos com maior liquidez. Mas existem todos os tipos de casos de uso dos NFTs. 

Por outro lado, esse mesmo artista poderia criar tokens fungíveis para recompensar a sua comunidade de seguidores, conceder acesso a algum conteúdo premium ou evento especial, ou permitir que o seu público vote para escolher o tema do seu próximo vídeo. Ele poderia até oferecer um outro tipo de token cripto, o POAP, como prova de presença em seu evento. 

Para outras áreas, como a esportiva, existem ainda os Fan Tokens de Chilliz, que são tokens fungíveis que representam desde o fanatismo por um clube de futebol até as coleções NFT das lendárias jogadas da NBA. 

As possibilidades no ecossistema cripto são muito amplas, e novos protocolos que permitem diferentes tipos de tokenização são adicionados o tempo todo, como os soulbond tokens, um tipo de token intransferível que está sendo promovido na Ethereum. 

O que pode ser tokenizado

Uma área em que a tokenização está sendo revolucionária é no setor imobiliário, na compra e venda de propriedades. Além do número de propriedades e terrenos à venda, os seus preços são altos. Na escala de um país, apenas algumas milhares de operações imobiliárias são concluídas por ano. O uso dos tokens permite resolver esse grande problema de liquidez. 

Por exemplo, pode ser difícil de encontrar um comprador para um terreno de 40x40 metros (1.600m²). Mas dividir esse terreno em 4 lotes de 10x40 (400m²) para barateá-lo e poder vendê-los implica ter que fazer mais trâmites e pagamentos, o que também não é conveniente. A tokenização permite tanto a fracionalização da propriedade quanto a prova de propriedade, possibilitando, por exemplo, a criação de 1.600 tokens, sendo que cada um representa um metro quadrado do terreno. Assim, os interessados podem comprar 1m², 8m², 543m² ou 1.600m².  

Logo, esses tokens poderiam ser revendidos a outros compradores, se a demanda aumentar, ou serem negociados em uma exchange. Ou os proprietários poderiam ficar com os tokens e participar coletivamente com outros coproprietários na tomada de decisões sobre o uso e o destino da terra. Ainda, eles poderiam apresentar os tokens como prova de propriedade para acessar empréstimos ou usá-los como garantia em um serviço DeFi

Este é apenas um exemplo de uso e, embora o ecossistema ainda esteja surgindo, as possibilidades parecem infinitas. Agora é possível tokenizar ativos tradicionais, como títulos, casas, cotas de fundos de investimento, e outras coisas mais exóticas, como times esportivos, obras de arte e perfis das redes sociais. 

Benefícios da tokenização 

Agora, por que alguém iria querer tokenizar algo? As tecnologias mais bem-sucedidas são aquelas cujos casos de uso não apenas oferecem uma alternativa à tecnologia já disponível, como também oferecem melhorias óbvias, e aliviam ou reduzem o custo dos processos. 

No caso dos tokens criptográficos, o benefício é claro: eles fornecem uma maneira rápida e simples de trocar a propriedade de ativos e bens físicos e digitais, tangíveis e intangíveis, e também garantir que essas operações ocorram em redes seguras. 

Maior liquidez: compradores e vendedores podem negociar com mais rapidez e facilidade, o que remove a barreira de entrada, agiliza os processos e aumenta o volume de negociação. 

Preços mais justos e atualizados: a maior liquidez permite um mercado mais dinâmico, com preços atualizados e ajustados à relação de oferta e demanda em todos os momentos. 

Custos operacionais mais baixos: os ativos tokenizados podem ser transferidos imediatamente nas plataformas e nos marketplaces que automatizam partes do processo, economizando tempo e dinheiro. 

Prova de propriedade: nenhum usuário ou proprietário pode alterar o histórico de um ativo para torná-lo mais atraente ou reivindicar a propriedade de algo que não é seu. 

Transparência: as transações nas redes blockchain costumam ser públicas para todos os participantes da rede, o que proporciona melhor rastreabilidade e aumenta a confiança nos ativos. 

Gestão coletiva: muitas pessoas podem comprar partes de um ativo, agrupar-se e se organizar para dar-lhe um uso (por exemplo, para uma casa em uma zona que é típica para as férias). 

Finanças inclusivas: não há intermediários decidindo quem pode ou não negociar em um mercado ou com determinados ativos. Os tokens blockchain democratizam o acesso financeiro.