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Tokenização: entenda o que é e por que isso é uma tendência

Tokenização: entenda o que é e por que isso é uma tendência

A tokenização tem abalado o mercado financeiro e criado diversas discussões ao redor do mundo. Saiba mais sobre sua utilização e legalização.

Santiago Juarros
Content Analyst
20/9/22

O Bitcoin (BTC) surgiu como um ativo disruptor para o mercado financeiro, oferecendo um mundo repleto de novas possibilidades. Seu principal avanço, em termos tecnológicos, foi o surgimento da blockchain, ideia que acabou abrindo portas para outras soluções e ativos digitais – como é o caso da tokenização.

Atualmente, a tokenização tem “abalado” o mercado financeiro e criado diversas discussões ao redor do mundo, especialmente sobre sua utilização e legalização. Há milhares de tokens espalhados pelo mercado, cada um com seu propósito e funcionalidade. 

Você não sabe o que é tokenização e nem como ela funciona? Continue a leitura e entenda!

Afinal, o que é tokenização?

A tokenização nada mais é que a transformação de ativos reais em ativos digitais. Assim, diferentes ativos podem ser tokenizados – como obras de arte, times de futebol, bens imobiliários e muitos outros.

Para explicar na prática, imagine o seguinte cenário: você é dono de um terreno e está precisando de dinheiro rápido. Ao invés de colocar a sua propriedade à venda do jeito tradicional, é possível criar tokens que representam uma fração da sua terra em um mundo virtual.

Ao criar um token para a sua propriedade, você pode dividi-lo em frações que representam 5% do seu imóvel, por exemplo. Você ainda será dono do terreno e continuará trabalhando para que ele dê lucro, mas poderá negociar esses ativos com outros interessados.

Esse é um exemplo simples para explicar como funciona a tokenização, mas a ideia pode ser expandida para praticamente qualquer coisa.

Qual a diferença entre tokenização e mercado tradicional?

Embora seja considerado um método revolucionário, a tokenização não é uma ideia necessariamente nova. A sua versão no mercado financeiro é a securitização, processo que reúne obrigações contratuais de dívida (hipotecas, empréstimos, dívidas de cartão de crédito etc.) para serem negociadas como valores mobiliários. 

Esses ativos podem ser títulos, valores mobiliários de repasse ou obrigações de dívidas colateralizadas (CDOs). 

A diferença entre a forma tradicional e a utilizada pelo mercado cripto é o uso da blockchain, que permite a validação de todo esse processo de forma automatizada e sem intermédio, por meio de um ambiente digital. A blockchain torna a tokenização mais acessível e democrática, além de ágil e rápida.

Como funciona o processo de tokenização?

Todo o processo de tokenização é feito via smart contracts (contratos inteligentes) em uma blockchain. Nesse caso, o algoritmo define os recursos importantes do seu token, como seu valor, quantidade, denominações, nome, entre outras características.

O token funciona como um contrato digital linkado a um documento jurídico que representa um ativo real. Dessa forma, quem é seu dono é detentor também da parte representativa desse ativo. No caso fictício do nosso celeiro, quem detém 1 CLR possui 5% do celeiro, por exemplo.

Como o token precisa de uma plataforma que suporte os contratos inteligentes, é necessário que você utilize uma blockchain específica para a finalidade – e a Ethereum é a mais conhecida no mercado. A partir do momento que os tokens são colocados em circulação no mercado, o valor de cada ativo depende da oferta e da procura para se valorizar. 

Quais os benefícios da tokenização?

Já deu para perceber que a tokenização oferece vários benefícios, não é mesmo? Com ela, os processos de custódia, compliance, transação, verificação e controle de ativos das partes envolvidas se tornam automatizados e, principalmente, descentralizados, o que acarreta em custos menores, transações mais fáceis e acesso democratizado.

Retornemos ao nosso exemplo do celeiro: ao invés do proprietário pagar inúmeros intermediários e gastar com papelada, ele precisa apenas programar um contrato inteligente. Esse processo reduz drasticamente os custos administrativos das transações, além de ser feito de forma mais ágil e rápida.

Para quem adiciona o token à carteira também há muitos benefícios: o mercado cripto funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, em qualquer lugar do mundo, transformando os tokens em ativos acessíveis. Assim, você pode ter acesso a uma parte do celeiro, por exemplo, mesmo estando do outro lado do mundo.

Essa democratização pode ser estendida a praticamente tudo, desde ações até imóveis, arte, entre outros ativos.

Tipos de tokens

Como é possível observar, o token é a representação digital de um ativo ou utilitário específico. É importante você saber que há pelo menos três tipos de tokenização em circulação no mercado, cada uma delas com uma finalidade diferente. 

Tokens de moeda

O primeiro exemplo que vem à cabeça quando falamos de tokenização são os tokens de moeda, afinal, eles são associados às criptomoedas. Criados em blockchains, eles não são baseados em ativos e o seu valor está diretamente vinculado ao mecanismo que os distribui. 

O objetivo desses tokens é serem negociados, gastos e recebidos, como ocorre com o BTC e as outras criptomoedas.

Utility token

Os tokens de utilidade fornecem acesso a um produto ou serviço dentro de redes blockchain. Ou seja, você adiciona na sua carteira um token com a finalidade de utilizá-lo como moeda de troca para acessar determinadas funcionalidades dentro de uma blockchain ou um jogo NFT, por exemplo.

Os utility tokens nem sempre são usados para fins de investimento, já que servem para funções específicas. Os fan tokens são bons exemplos de ativos dessa categoria e oferecem aos torcedores de clubes de futebol a possibilidade de participar mais ativamente das decisões do time e ganhar descontos exclusivos. 

Security token

Para definir se você está diante de um security token basta se questionar: ele está sendo ofertado como um investimento? Espera-se lucro dele? Esses lucros dependem dos esforços do emissor e de terceiros?

Se a resposta para essas perguntas for sim, ele pode ser considerado um security token. Os securities são ativos negociáveis (obrigações, débitos, ações, commodities) sem a necessidade de tê-los sob custódia física – como o exemplo anterior sobre o token do celeiro.

A legalidade da tokenização 

A tokenização é, realmente, uma ideia revolucionária e que pretende democratizar o acesso a inúmeros ativos, mas ela ainda esbarra nas questões legais. Afinal, é importante se certificar que o token de fato representa um ativo real e que oferece ao investidor o direito de ter parte da sua custódia.

Para resolver essa questão, várias empresas estão buscando por soluções, como a Polymath, Securitize, Harbor, OpenFinanceNetwork, AirSwap etc. Uma dessas startups é a STP (Standard Tokenization Protocol), que está desenvolvendo um validador on-chain para assegurar os regulamentos nas regiões em que atua.

Em tese, esse validador verifica se todos os requisitos de combate à lavagem de dinheiro e KYC (“conheça seu cliente”) são atendidos pela empresa e avalia diferentes corporações de gerenciamento de identidade digital para a tarefa. Assim, um acordo ocorre apenas caso os regulamentos sejam seguidos.

Outra solução vem da Tokenized, que cria tokens de ativos reais na blockchain do Bitcoin. A empresa afirma que sua plataforma permite às autoridades legais emitirem ordens judiciais assinadas digitalmente que podem levar ao congelamento do contrato inteligente, com a possibilidade de confisco de tokens, o que poderia convencer os reguladores.

Atualmente, já existem security tokens emitidos e circulando no mercado, como o SPICE VC Token — uma modalidade que representa uma cota em um fundo de investimentos em Venture Capital, emitido em Cingapura —, que aporta capital em startups globais e recebe investimentos de pessoas de todo o mundo.

Conclusão 

A tokenização pode até esbarrar na falta de regulamentação de cada país, porém há cada vez mais escritórios de advocacia especializados no assunto, além de jurisdições que estão se inclinando a aceitar esse novo mercado, como a Suíça.

Ainda existem, é claro, muitos pontos a serem discutidos sobre essa questão, especialmente em torno da legalidade dos tokens e das conformidades para que cada token represente um ativo verdadeiro.

Apesar disso, os especialistas estão entusiasmados e veem um futuro interessante nos tokens para o mercado financeiro, com perspectivas de grande evolução nos próximos anos.