Um ano de confirmação do inverno cripto, de grande volatilidade e notícias caóticas chega ao fim. Esta será nossa edição especial de fim de ano, em que analisaremos dados que corroboram a sensação de que o pior já passou e que há esperança para 2023.
Após a ATH (all time high ou máxima histórica, em português) atingida no Bitcoin (BTC) aos US$ 69 mil no fim de 2021, muitos aguardavam uma correção e até mesmo o início do inverno cripto. O que nos surpreendeu em 2022 foram as notícias de projetos mal-sucedidos e alguns casos de insolvência que, mesmo que pontuais, trouxeram grande instabilidade e incertezas aos participantes do mercado.
Para essa edição especial, partiremos não só do preço do BTC como também dos preços de Ethereum (ETH) e os seus movimentos gráficos, e complementaremos com a análise de dados on-chain para analisar o acumulado do ano.
Além disso, em 2022 houveram momentos em que as stablecoins de dólar (USD) perderam a sua paridade devido à grande volatilidade após o evento Terra (LUNA), por isso, essas moedas foram incluídas pela primeira vez por aqui.
Os indicadores on-chain utilizados nesta edição são: Saldo dos contratos futuros; Índice de alavancagem; Soma anual de perdas e lucros realizados; Lucro e perda dos investidores de longo prazo; Total de Ethereum bloqueado em DeFi; e Dominância relativa das stablecoins.
Graficamente, a consolidação continua dentro do canal baixista que se iniciou no primeiro trimestre de 2022. A máxima do mês de dezembro em US$ 18.387,95 demonstrou fraqueza em romper para patamares acima, sugerindo continuidade da consolidação e maior probabilidade de quedas no rompimento de seu fundo.
As próximas regiões de liquidez estão em US$ 13.400 e US$ 12.000.
ETH também teve a sua ATH no fim de 2021, aos US$ 4.868, e se manteve em queda durante 2022. Com a proximidade da atualização de sua rede com o The Merge, os meses de julho e agosto foram positivos na expectativa dessa atualização, porém não foi o suficiente para iniciar uma reversão para tendência de alta. E a partir do The Merge concluído, o ativo entrou em consolidação com probabilidade de buscar a próxima região de liquidez em US$ 1.070 no rompimento do último fundo.
Este indicador é uma foto da quantidade de contratos futuros negociados e utilizados para as operações de especulação e alavancagem. Atualmente, ele demonstra a depressão dos alavancados, operando em mínimas históricas tanto no BTC quanto no ETH.
É interessante observar que, hoje, ambos os ativos têm os seus contratos futuros em queda de volume negociado, sendo que historicamente foram poucas as vezes que o BTC e o ETH coincidiram em mínimas. Geralmente, o BTC se mantinha no mínimo 5% acima do volume de contratos em ETH.
Tal movimentação demonstra a liquidação sofrida por quem estava demasiadamente alavancado, e o impacto da falta de liquidez e da desalavancagem generalizada.
Ao observar o Índice de Alavancagem — que é calculado como a relação entre os Contratos em Aberto de Futuros e o valor de mercado do ativo correspondente — também temos queda drástica neste último trimestre.
O aumento e a redução da alavancagem de futuros em novembro foram notavelmente mais severos no ETH, provavelmente pelo encerramento das negociações residuais no The Merge.
Os contratos em aberto do ETH (linha azul) caíram de 4,75% para 3,10% em valor de mercado. O índice de alavancagem do BTC (linha laranja) atingiu o pico uma semana antes dos mercados de ETH, e, desde então, caiu de 3,46% para 2,50% em valor de mercado no último mês.
Em 2021, o pós-pandemia trouxe um grande afrouxamento da política monetária norte-americana, causando uma bolha de liquidez que criou um lucro total anual recorde na rede — é possível observar no gráfico abaixo o topo em verde de lucros de US$ 455 bilhões
Obviamente, essa postura causou descontrole da inflação norte-americana e foi necessário iniciar o ciclo de alta de juros em 2022. Em meio ao mercado de baixa das criptomoedas, houve mais atratividade à renda fixa depois de anos de lucro baixo e estável, e o mercado devolveu mais de US$ 213 bilhões em perdas realizadas.
Ao compararmos com a oscilação entre o mercado de baixa e alta de 2018, as perdas ficam muito similares: agora, em 2022, 46,8% dos lucros de 2021 foram devolvidos, enquanto que em 2018 o mercado devolveu 47,9%
Já observamos que os especuladores e alavancados realizaram perdas e muitos foram liquidados. Mas e os hodlers, como eles se comportaram em 2022?
Este indicador mostra que os investidores de longo prazo realizaram dois dos maiores picos de perdas relativas da história. Até novembro, as perdas de LTH (linha tracejada rosa) atingiram um pico de -0,10% do valor de mercado por dia, o que é comparável em escala somente às baixas do ciclo de 2015 e 2018.
Vimos na ATH da Ethereum o auge da adoção da DeFi. E isso também ficou claro quando o tema finanças descentralizadas passou a fazer parte de painéis em faculdades, matérias de jornais tradicionais e até de um ETF (fundo de índice) brasileiro comercializado diretamente na B3 de forma pioneira.
Ao observar o indicador, percebe-se no gráfico o topo de US$ 160 bilhões em novembro de 2021 na ATH do mercado e depois uma queda brusca de 75% (-US$ 120,3 bilhões). Com uma redução extrema nos preços dos tokens, seguida de uma forte contração da liquidez, o valor total bloqueado em DeFi caiu drasticamente e o movimento contínuo de criação de novas pools de liquidez estagnou em meio ao receio e à insegurança dos participantes do mercado.
Sendo este artigo uma retrospectiva do ano, é inevitável analisar as stablecoins. Em 2020, elas se tornaram um ativo fundamental da indústria, quando 3 dos 6 principais ativos por capitalização de mercado foram stablecoins.
Em março de 2022 houve o pico de US$ 161,5 bilhões, e a partir de abril houveram saídas líquidas entre -US$ 4 bilhões e US$ 8 bilhões por mês, o que se pode entender como algo natural em meio ao mercado de baixa.
Dentre os indicadores observados, a informação on-chain mais interessante é da alteração da dominância das stablecoins, em que Tether (USDT) mantém uma participação de 45% a 50% apesar do total de US$ 18,42 bilhões em resgate da moeda desde maio durante o curto período em que ela perdeu a paridade com o dólar.
Além disso, outras stablecoins ganharam espaço:
Neste ano, as quedas de BTC e ETH ultrapassaram -75%, confirmando o inverno cripto deste ciclo. Vivemos um grande evento de desalavancagem, redução de liquidez e contração de crédito, e assistimos a inúmeras falências, incluindo o triste colapso do projeto LUNA/UST e, infelizmente, o que parece ser uma fraude no caso da FTX.
O ano de 2022 foi marcado por alta volatilidade e grande saída dos especuladores — o que os indicadores de contratos futuros negociados puderam nos confirmar. Já a oferta de investidores de longo prazo do BTC aumentou para mais uma ATH, e o volume registrado a cada queda de preço nos mostra que estão melhorando os seus preços médios com novas compras.
A atualização The Merge na rede Ethereum também foi executada com sucesso em setembro, e as stablecoins continuam em ajuste de saldos à medida que os investidores realizam a saída de suas posições em criptomoedas.
A grande queda de saldos em DeFi é algo que é preciso salientar nesta edição, pois é neste cenário que a manada costuma fugir, e quem for esperto e audacioso o bastante saberá observar este mercado e aproveitar as melhores oportunidades de retorno. Vale lembrar que as finanças descentralizadas são um mercado tão dinâmico que a própria necessidade dos projetos e a disponibilidade dos investidores criam as oportunidades de forma livre.
Na análise gráfica, mantém-se a leitura para o médio prazo do BTC se movimentar entre US$ 13 e 12 mil. Somente com o rompimento com o volume da região dos US$ 22 mil é que será possível acreditar no fim do bear market e na reversão do canal de baixa atual.
Nos dados on-chain, observa-se similaridades nas variações de alguns parâmetros com o fim do ciclo de baixa de 2018, porém, ainda é cedo para dizer que o ciclo atual está próximo ao fim ou mesmo se haverá um fim ainda em 2023.
O que podemos garantir é que estamos ansiosos para continuar as análises e contar com a sua leitura e participação durante o ano que vem 😊
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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012
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