O termo "Boys Club" é usado há décadas para se referir a Wall Street e a toda a comunidade de investidores e corretores de Nova York. A representação deste espaço como um “clube do bolinha" tem a ver com a dominância masculina não só no número de participantes no mercado, mas também em termos de volume de investimento e considerável presença nos meios financeiros.
Com a expansão e desenvolvimento do ecossistema cripto durante a pandemia, vozes masculinas dominantes se tornaram cada vez mais notáveis e numerosas no universo cripto. As referências nas comunidades, os responsáveis pelos projetos, os porta-vozes do ecossistema e os transmissores de informações sobre cripto e blockchain com maior visibilidade geralmente são homens.
Tudo isso, ao longo dos anos, fortaleceu a ideia de que cripto também pertencia ao "clube do bolinha". Algo que conflita com a promessa da blockchain de não discriminar, de servir de ferramenta para qualquer pessoa independente de suas características, crenças ou escolhas, ou do local de onde opera. Daí essa preocupação em não replicar na nova economia tokenizada as disparidades e assimetrias típicas das economias e finanças tradicionais.
Embora as previsões mais otimistas falem de uma proporção de 1 em cada 4, em média, as estimativas atuais são de que apenas 1 em cada 6 holders de BTC se definem como mulheres. E a taxa cai para 1 mulher a cada 8 no caso da ETH. Na mesma linha, uma análise recente das principais empresas do setor de criptomoedas revelou que de um total de 121 fundadores, apenas 5 eram mulheres.
Tudo isso pode levar a acreditar que as mulheres não estão participando do ecossistema, mas isso não é verdade. O que acontece é que, assim como em outras áreas, elas também sofrem com a disparidade, ocultação ou discriminação no mercado cripto.
Cinco projetos de criptomoedas de e para mulheres
Existem atualmente muitas comunidades integradas e orientadas para mulheres e pessoas não-binárias e, também, um número significativo de coleções NFT que fazem sucesso, baseadas na identificação feminina. Tudo isso sem contar a entrada massiva de cada vez mais mulheres para trabalhar na indústria de criptomoedas como editoras, desenvolvedoras, designers, líderes de projetos, programadoras, influenciadoras. Ou do crescente número de criadoras de conteúdo em blockchain, NFT, DeFi e investimentos.
Vamos rever alguns casos mistos de comunidades onde mulheres e pessoas não-binárias estão no comando:
Com a ironia bem na cara, Deana Burky e Natasha Hoskins co-fundaram em 2019 a comunidade Boys Club, uma startup que busca aproximar mais mulheres e pessoas não-binárias do espaço cripto e da web3, oferecendo informações acessíveis, com diversidade e treinamento para elas. Além disso, esse grupo costuma organizar encontros e eventos para promover o networking em ambientes descontraídos.
Black Women Blockchain Council
Desde 2018 este grupo conscientiza sobre a diferença racial no investimento em criptomoedas e trabalha na superposição das diferentes linhas de exclusão que ocorrem no nível econômico, como a racial (quando um imigrante ou uma pessoa de pele diferente não é aceita para determinados empregos), a de gênero (quando uma mulher ou pessoa LGBTQIA+ não são considerados para cargos hierárquicos) ou a geográfica (quando a porta se fecha para uma pessoa de um bairro pobre ou de um país discriminado).
Coleção NFT de 8.888 mulheres únicas renderizadas em 3D que foi toda vendida. Na tentativa de preencher a lacuna e facilitar a inclusão, a proposta de sua criadora, a artista gráfica Yam Karkai, foi “trabalhar incansavelmente na educação e empoderamento de pessoas sub-representadas no mundo das criptomoedas”.
Maggie Love entrou no ecossistema em 2017 e imediatamente percebeu que faltavam mulheres. Ela interpretou que era um problema de acesso à informação e fundou a SheFi, com o desafio de fornecer educação acessível para que “as mulheres, assim como os homens, falem sobre criptomoedas em rodas de amigos ou durante o jantar”. A evolução dessa ideia foi a montagem de uma plataforma DeFi de pools de empréstimos para gerar renda, investir ou negociar e emprestar criptomoedas.
É um grupo que inclui figuras do entretenimento como as atrizes Mila Kunis e Gwyneth Paltrow ou a modelo Tyra Banks e cuja missão também é compartilhar informações, dados e insights sobre as possibilidades do ecossistema cripto.
8 mulheres do ecossistema cripto que você precisa conhecer
Olayinka Odeniran, fundadora e administradora do projeto Black Women Blockchain Council, que visa aumentar o número de mulheres negras trabalhando no desenvolvimento de blockchain para meio milhão até 2030. Ela também administra uma sala de bate-papo no Clubhouse, um site com informações sobre NFTs e DAOs. Ela também criou a coleção NFT CyberMermaid para fins de conservação dos oceanos e agora está envolvida em um programa para ensinar cripto e blockchain a mulheres africanas.
Roya Mahboob é, além de uma ativista de renome mundial, uma das poucas mulheres que ocupou cargos de CEO de tecnologia no Afeganistão antes do golpe Talibã. Ela fundou e administra a Afghan Citadel Software Company, onde metade dos funcionários são mulheres que são pagas em criptomoedas devido à proibição afegã de mulheres acessarem uma conta bancária tradicional.
Linda Xie é cofundadora e gerente da empresa de investimento em criptomoedas Scalar Capital, foi analista de risco da AIG, gerente de produtos da Coinbase e colaborou como consultora em regulamentos para ativos digitais. É também uma das principais disseminadoras de informações sobre blockchain nas redes sociais.
Laura Shin é editora sênior da Forbes e é considerada a primeira jornalista mainstream a começar a escrever sobre criptomoedas. Atualmente, ela produz e hospeda os podcasts Unchained e Unconfirmed, e escreveu um livro que reúne toda sua experiência analisando o ecossistema de criptomoedas.
Tavonia Evans é fundadora e engenheira líder do GUAP Coin, um projeto que busca auxiliar na melhora da renda para empresas e empreendimentos de pessoas afro americanas nos Estados Unidos. A ponto de 70% dos nós do GUAP Coin serem administrados por mulheres negras.
Manasi Vora é cofundadora do Komorebi Collective on Syndicate, um investimento DAO focado no financiamento de projetos femininos e de pessoas não binárias. Além da criadora do Women in Blockchain, um espaço de troca para conectar referências femininas no espaço cripto e tecnologia.
Maliha Abidi é uma artista visual paquistanesa-americana que lançou Women Rise NFTs, uma coleção que representa a diversidade de mulheres ao redor do mundo, com ativistas, artistas, cientistas e programadoras. Ela está atualmente trabalhando na criação de uma escola no metaverso para educar crianças marginalizadas de todo o mundo.
Cleve Mesidor foi consultora do governo de Barack Obama e é autora do livro My Quest for Justice in Politics & Crypto. Ela também fundou a National Policy Network of Women of Color in Blockchain e a plataforma social LOGOS para ativistas de blockchain.
Monica Rizzolli, brasileira que vendeu cerca de 1.094 desenhos por um preço de R$28 milhões. Formada em artes plásticas, mudou para programação e criou obras de arte generativa, onde a imagem se constrói de acordo com a sequência numérica única no contrato da NFT produzida.
Dayana Trindade, artista plástica, lançou um projeto de NFT com o tema "mulheres brasileiras", produzindo as imagens em tela física e digitalizada para NFTs.