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“Intent-based trading” em DeFi: o que é e como funciona

“Intent-based trading” em DeFi: o que é e como funciona

Trading baseado em intenção no DeFi: o que é, como funciona e como melhora a experiência, os custos e a segurança - com exemplos e desafios.

Fernando Clementin
Jornalista e tradutor.
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15/12/25

As finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês) trouxeram mudanças importantes em relação ao setor financeiro tradicional, sobretudo no que diz respeito à acessibilidade, transparência e - muitas vezes - eficiência de custos.

No entanto, há um ponto em que muitos concordam: o ecossistema DeFi é complexo. Para reduzir essa dificuldade de uso, surge o intent-based trading, ou “trading baseado na intenção”.

O que é o “intent-based trading”?

O intent-based trading é uma modalidade de negociação baseada na intenção do usuário. A proposta consiste em automatizar operações a partir do que o usuário quer alcançar — e não dos passos técnicos necessários para chegar lá.

Em outras palavras: em vez de executar manualmente cada transação ou alternar entre diferentes redes e protocolos, o usuário simplesmente define sua intenção e deixa que a plataforma cuide do restante.

Como funciona o “intent-based trading”?

Suponha que um usuário queira montar uma estratégia focada em tokens ligados a inteligência artificial. Além disso, ele pretende operar apenas com aqueles que estejam 20% abaixo do seu preço médio nos últimos 30 dias.

Depois de inserir essas instruções, a plataforma pode executar as operações necessárias: rastrear os tokens elegíveis, comparar seus históricos de preço e adicioná-los ao portfólio do usuário. Caso seja necessário fazer uma ponte entre redes, o próprio protocolo realiza isso, com as taxas correspondentes.

Esse modelo substitui o esquema atual, muito mais manual, que normalmente exige que o usuário interaja com diversos protocolos, mude de rede e pesquise uma variedade de tokens para cumprir sua estratégia.

Uma nova camada de abstração em DeFi

Embora em DeFi já seja possível automatizar transações (como stop loss ou limit orders), o intent-based trading avança ainda mais.

Por quê?
Porque ele não se limita a executar ordens específicas - permite criar estratégias completas baseadas em objetivos amplos.

Em vez de apenas dizer “compre ou venda quando o preço chegar a tal nível”, o usuário pode definir metas mais complexas, como “operar apenas com tokens da rede Ethereum que tenham variações negativas acima de 5% na semana” ou “ajustar minha exposição ao risco conforme as condições do mercado”.

Assim, o sistema interpreta a intenção do usuário e toma as decisões necessárias para cumpri-la, com base em dados em tempo real, contratos inteligentes e diferentes protocolos DeFi.

A diferença fundamental em relação ao modelo tradicional

No modelo tradicional de trading - inclusive em DeFi - o usuário precisa executar cada etapa: escolher o protocolo, definir ordens, confirmar transações e alternar entre redes. Isso demanda conhecimento técnico e tempo.

O intent-based trading muda essa lógica. Em vez de focar no como, ele se concentra no o quê: o resultado desejado.
A diferença parece sutil, mas é enorme: o sistema traduz a intenção em uma sequência de ações automáticas e coordenadas.

O papel dos “solvers” e da infraestrutura modular

Por trás do intent-based trading existe um componente essencial: os solvers (“solucionadores”). São agentes automatizados (programas ou bots) responsáveis por interpretar as intenções do usuário e encontrar a melhor maneira de executá-las dentro do ecossistema DeFi.

Os solvers recebem a intenção (por exemplo, “maximizar rendimento com baixo risco”) e, a partir daí, analisam protocolos, calculam rotas possíveis e executam a combinação mais eficiente.

Isso se torna viável graças a uma infraestrutura modular que conecta diferentes partes do ecossistema DeFi -como DEXs, pontes e protocolos de empréstimo - sem que o usuário precise interferir em cada passo.

Quais vantagens esse modelo oferece?

O intent-based trading muda a forma como os usuários interagem com os protocolos DeFi. As principais vantagens estão na experiência do usuário e na eficiência de execução: plataformas mais intuitivas, simples e rápidas.

Melhor UX e mais eficiência

Como mencionamos, o intent-based trading simplifica radicalmente a experiência do usuário (UX).
Em vez de navegar entre diversos protocolos, redes ou carteiras, o usuário define sua intenção uma única vez e o sistema faz o resto.

Essa automação reduz etapas, erros e custos desnecessários de gas. Além disso, ao otimizar rotas e agrupar transações, a execução tende a ser mais rápida e barata do que no modelo manual.

Menos MEV e menos slippage

No modelo tradicional de DeFi, cada transação fica exposta a problemas como MEV (Miner Extractable Value) e slippage (diferença entre o preço esperado e o executado).

O intent-based trading reduz esses efeitos.
Ao agrupar transações e coordená-las, diminui oportunidades de front-running (que causa MEV) e, ao mesmo tempo, os solvers otimizam rotas, reduzindo o slippage.

Quais protocolos estão adotando esse enfoque?

O intent-based trading ainda é um conceito novo, mas já está sendo aplicado em vários projetos DeFi.

Anoma, CowSwap, SUAVE, Flashbots (entre outros)

Um dos casos mais destacados é Anoma, uma rede criada desde o início com foco em intenções. Ela propõe eliminar a necessidade de interação com contratos ou order books, permitindo que o usuário apenas declare sua intenção - e a rede realize o resto automaticamente.

Outro exemplo é CowSwap, um protocolo que utiliza solvers para realizar trocas de tokens com o melhor preço possível.

Por sua vez, a Flashbots -através do projeto SUAVE (Single Unifying Auction for Value Expression) - desenvolve uma infraestrutura onde as intenções dos usuários podem ser executadas sem exposição ao MEV e sem competição desleal de validadores.
Em vez de cada transação competir isoladamente, as intents são processadas em um espaço neutro, onde solvers disputam em uma espécie de “leilão” para cumpri-las da melhor forma.

Por que isso chama tanta atenção de developers?

O intent-based trading abre um novo campo de experimentação em DeFi, atraindo muitos desenvolvedores. É um terreno fértil, com espaço para inovação.

Nesse contexto, developers podem criar sistemas capazes de interpretar objetivos mais amplos e otimizá-los de maneira flexível e criativa.

Críticas e desafios do “intent-based trading”

Como toda inovação, o intent-based trading também enfrenta desafios.
Um dos principais diz respeito à confiança nos solvers: embora eles otimizem operações, ainda é necessário garantir sua transparência e evitar que tomem decisões contrárias ao interesse do usuário.

Outro ponto é o risco de centralização: ao concentrar lógica demais nesses agentes, parte da descentralização típica de DeFi pode ser perdida. Alguns projetos tentam solucionar isso com sistemas abertos, onde múltiplos solvers competem entre si, mas ainda não existe um padrão definido.

Além disso, a construção e manutenção de infraestruturas modulares é complexa - exige coordenação entre diversas camadas, auditorias sólidas, segurança e boa governança.

É essa a próxima grande evolução em DeFi?

O intent-based trading promete transformar a forma como interagimos com as finanças descentralizadas: menos passos técnicos, mais automação e uma UX muito mais fluida.

No futuro, poderíamos simplesmente expressar o que queremos alcançar e deixar que o protocolo execute a estratégia completa.

Se esse modelo se consolidar, poderá inaugurar um novo paradigma em DeFi - um onde estratégias são definidas por objetivos, e a inteligência do sistema permite que qualquer pessoa participe com segurança, eficiência e sem necessidade de conhecimento técnico avançado.

O conteúdo deste artigo tem apenas fins informativos e/ou educacionais. Não constitui aconselhamento financeiro, legal, fiscal ou de investimento, e não deve ser interpretado como uma recomendação para tomar qualquer ação específica.

Antes de tomar decisões financeiras, de investimento ou comerciais, é recomendável consultar um assessor ou profissional qualificado na área correspondente.Os ativos digitais podem apresentar alta volatilidade em suas cotações. A Ripio não oferece garantias ou representa a viabilidade ou adequação desses ativos como uma opção de investimento.