Com a falência da exchange FTX, a indústria de criptoativos e muitos investidores recém chegados a este mercado presenciaram a insolvência mais chocante desde o caso da Mt Gox, que foi a maior exchange por volume de usuários e negócios diários e que faliu após sofrer um hack em 2014.
Como é sempre dito aqui, os dados on-chain auxiliam a entender o comportamento dos investidores e participantes do mercado. Principalmente em momentos de medo e cautela, eles podem ser extremamente esclarecedores para entendermos o que está por vir.
Antes de abordarmos os assuntos principais deste artigo é importante salientar que o espaço de ativos digitais é um mercado livre e que o evento da FTX representa uma falha em uma entidade centralizada e não na tecnologia criptográfica ou na blockchain. Não há danos para o Bitcoin em si, e o episódio traz como efeito colateral a eliminação de todos os excessos e da má conduta de um caso isolado, além do efeito positivo de incentivar as pessoas a entender e aderir à autocustódia, tornando-as cada vez mais conscientes da solução do mercado de criptomoedas para os problemas do sistema monetário tradicional.
Partiremos, então, do preço do Bitcoin (BTC) e seus movimentos na análise gráfica e complementaremos o estudo com a análise de dados on-chain.
Os indicadores on-chain utilizados neste artigo são: NVT, Inflow & Outflow, MVRV e Oferta total mantida por hodlers de longo prazo.
As linhas tracejadas em amarelo mostram a máxima e a mínima do mês de novembro até agora. Os US$ 21.480 são o topo que antecedeu a queda da semana do dia 07/11 com o pânico extremo após notícias da FTX, enquanto que o fundo de US$ 15.476 é onde o BTC se mantém em consolidação desde então.
Desde junho deste ano que o preço do BTC não tinha tamanha amplitude.
Graficamente, a lateralização que já vinha desde junho, e com dificuldade de formar fundo, só encontrou mais um patamar para seguir em tendência de baixa com as próximas regiões de liquidez em US$ 13.400 e US$ 12.000.00
Essa métrica é calculada pela relação entre o valor da rede e todas as suas transações — que é calculada como uma capitalização de mercado da criptomoeda —, dividida por seu volume diário transacionado e cotado em dólar (USD).
O indicador também é conhecido como “caçador de bolhas”, pois pode indicar sobrecompra quando está igual ou acima de 95. Para que essa proporção seja alta, a capitalização de mercado do BTC deve superar substancialmente o seu volume de transações, sinalizando que o preço esteja inflado sem uma justificativa plausível. Isso também ocorre no caso de uma desvalorização injustificada da moeda.
Em 05/11, o NVT atingiu pico de 152,117, sendo que ele só havia trabalhado acima disso em junho deste ano, quando o preço caiu 37%, voltando abaixo de 95, sugerindo que o preço já teria atingido a sua mínima.
Porém, em 19/11 retornou a superar a linha de sobrecompra com pico em 137,2829. Neste mesmo dia, o preço trabalhava em US$ 16.500.00 e o pico de sobrecompra do NVT sugere maiores quedas.
Em meio às incertezas de liquidez da FTX e a preocupação de que tal problema resultasse em insolvência de mais exchanges, já era possível prever uma grande evasão de criptomoedas para as carteiras pessoais antes mesmo de observar o Outflow nos dados de rede.
O indicador Outflow mostra picos de saída das exchanges nos dias 04, 09, 11 e 17 de novembro. Neste período, o indicador descolou cada vez mais do Inflow — a métrica que nos mostra o oposto: a entrada de recursos nas exchanges..
Porém, o que mantém o clima de tensão dos mercados é o pico Inflow do dia 18/11, que dividiu opiniões, onde alguns sugeriram ser uma ressaca ocasionada ainda pelo caos da FTX — em que pessoas estariam enviando os seus saldos para as exchanges com boa liquidez com intenção de se desfazer de suas posições — ou apenas entradas e saídas organizadas por carteiras internas das próprias exchanges, num procedimento de rotina de transferências entre carteiras frias e carteiras para comprovação de suas reservas.
O fato é que neste dia houve a entrada de mais de 108.000 BTC em exchanges e o movimento descolou consideravelmente do saldo de saídas do dia (topo marcado com a flecha amarela). Tal movimento só se repetiu em maio e junho deste ano.
O MVRV é a relação entre marketcap (capitalização) e o custo total de aquisição de todos os criptoativos em circulação no mercado.
É interessante observar que, no mês de outubro, ele trabalhava abaixo de 1. No dia 04/11, na semana que antecedeu a queda durante o desenrolar das notícias da FTX, formou topo e tornou a cair atingindo 0,75 — região visitada somente durante a capitulação do mercado de baixa em 2018.
Para finalizar, vamos verificar o comportamento dos Detentores de Longo Prazo, que representam os participantes estatisticamente menos propensos a gastar diante da volatilidade.
A sua oferta diminuiu em 84.560 BTC pós-FTX, o que continua sendo uma das quedas mais significativas do ano.
Observe no gráfico abaixo que os declínios no fornecimento de LTH ultrapassam 100 mil BTC em três meses consecutivos: maio, junho e julho deste ano. Isso torna a queda atual notável, mas não a maior, embora ainda esteja em andamento.
Temos que considerar novamente – pois já constatamos isso no relatório passado, em outro indicador - que muitos hodlers resistiram às quedas, mas podem ter se tornado inseguros sobre a estabilidade de preços no futuro. Para estes investidores, o nível de US$ 23 mil poderia ser uma zona saudável de venda, então é possível termos interesse de venda nessa faixa.
Ao observar as métricas que descrevem o comportamento do investidor de Bitcoin, percebe-se que várias estão sinalizando stress do mercado e um volume incomum após a derrocada da FTX.
Boa parte dos hodlers, que até então estavam firmes em suas posições, passaram a se movimentar, sugerindo que houve uma redução na confiança em larga escala.
Voltamos a um cenário de convergência dos dados on-chain e da leitura gráfica, já que os indicadores NVT e MVRV apontam maior probabilidade de queda, assim como o canal de baixa respeitado no gráfico do BTC.
O impacto turbulento do colapso da FTX continua a se manifestar, e resta saber o quão extenso ele será e quando a confiança dos investidores será retomada.
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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012
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