Onde a capitulação poderá nos levar?

Abordagem das perdas sofridas pelos participantes do mercado de criptomoedas e os seus eventuais desdobramentos.

Paula Reis
Content Creator

É evidente que o uso da alavancagem acaba por deixar alguns numa posição de completa desvantagem e de liquidação rápida durante a volatilidade ocorrida no evento da FTX. E mesmo os players que não estavam alavancados passam a sofrer com a movimentação do preço em uma perda não realizada.

No artigo desta quinzena partiremos, primeiramente, do preço do Bitcoin (BTC) e os seus movimentos na análise gráfica, e complementaremos a abordagem com a análise de dados on-chain, que pode esclarecer até onde a capitulação dos participantes do mercado cripto chegará. 

Os indicadores on-chain utilizados nesta quinzena são: Endereços com saldo > $1M; Perdas e ganhos realizados no Bitcoin; Razão entre ganhos e perdas, e Capitalização realizada do BTC.

O movimento do preço

As linhas tracejadas em amarelo mostram a máxima do mês de dezembro (atingida em 05/12) e a mínima do mês de novembro em US$ 15.476, que mantemos em referência ao range pós FTX.

Graficamente, a lateralização mantém maior probabilidade de continuidade do canal de baixa, com próximas regiões de liquidez em US$ 13.400 e US$ 12.000.

Interface gráfica do usuário, Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Vector Pro

Endereços com saldo > $1M

Com este indicador on-chain é possível conferir o comportamento das baleias diante do preço do ativo. Temos as movimentações delas em amarelo e as movimentações de preços em verde.

Em 20/10, as baleias haviam reduzido os seus saldos consideravelmente em 25 mil endereços com saldo acima de US$ 1 milhão, atingindo o seu menor valor desde 2020. 

Na primeira semana de novembro, os saldos voltaram a subir ao topo de 65 mil carteiras, sendo seguido de nova queda. Nesta última quinzena, temos operações em 22,6 mil carteiras, sendo cada vez mais evidente a saída de algumas baleias. 

O mercado, no geral, especulou que os investidores institucionais que montaram fundos no mercado tradicional e os ETFs (Exchange Traded Founds) são os que lideraram essa saída de carteiras das baleias. 

A dúvida que paira no ar, entendendo o desenrolar das irregularidades na FTX, é: até que ponto esses investidores institucionais tiveram alguma informação privilegiada e utilizaram deste movimento da primeira semana de novembro para a realização de ganhos em operações curtas?

Tela de computador com jogoDescrição gerada automaticamente com confiança média
Fonte: Vector Pro

Perdas e ganhos realizados no Bitcoin

A fim de entender melhor essa saída das baleias, precisamos avaliar como estão as perdas no geral no mercado.

Já havíamos enfrentado grandes perdas em julho, o que levou os investidores a eventos de capitulação de escala histórica. Na ocasião, houveram -US$ 700 milhões em perdas todos os dias por quase 2 semanas após o evento. 

Agora, no evento FTX, o indicador registrou uma perda de um dia do ATH (máxima histórica) de -US$ 4,435 bilhões e não sustentou perdas nos dias seguintes. Além disso, quando avaliadas com uma média móvel semanal, as perdas parecem estar diminuindo. 

Porém, é importante observar como a curva de ganhos em verde reduziu consideravelmente e ainda sim é menor que as perdas. Ou seja, a grande maioria do mercado está em situação desconfortável com os preços médios acima do preço atual do BTC. 

GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode


Razão entre ganhos e perdas

Comparando os ganhos e as perdas, podemos complementar a análise com este indicador que analisa a razão entre eles por meio de uma média móvel de 7 dias.

Ele indica que as perdas bloqueadas pelo mercado foram 14 vezes maiores do que os eventos de realização de lucros. Ou seja, estamos perdendo muito e ganhando pouco.

Historicamente, os momentos anteriores em que os índices de Lucro/Perda Realizados estavam extremamente baixos nessa escala coincidiram com uma mudança de ciclos de mercado macro.

Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Capitalização realizada do BTC

Por fim, vamos observar a métrica de capitalização realizada, que exibe a soma líquida de entradas e saídas de capital na rede Bitcoin desde o seu início. Podemos usar essa métrica para avaliar a gravidade das saídas de capital da rede após o pico deste ciclo.

Esse indicador é representado pela linha laranja da figura abaixo.

Um aumento significativo pode ser observado no limite realizado após a queda de preços em meados de 2021 (flecha verde). Isso pode ser interpretado como os participantes do mercado obtendo liquidez de saída significativa no rally de alta, realizando lucros próximo da ATH.

Após o colapso da LUNA, em maio de 2022, observou-se uma saída significativa de capital, pois os investidores que compraram perto do topo do mercado começaram a obter perdas cada vez maiores (flecha rosa de capitulação).

O patamar atual da capitalização realizada está apenas 2,6% acima do pico de maio de 2021, o que sugere perdas acentuadas caso esse marco seja perdido em uma queda exacerbada deste indicador.

Interface gráfica do usuário, AplicativoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Resumo e conclusão

Na sequência de um dos maiores eventos de desalavancagem na história dos ativos digitais, a capitalização realizada do BTC caiu de tal forma que todas as entradas de capital desde maio de 2021 foram liberadas. 

Concluímos que, de fato, o nível de perdas dolorosas carregado pelos participantes do mercado de Bitcoin nos últimos 6 meses atingiu patamares impressionantes. Porém, a gravidade das perdas está diminuindo nas últimas semanas.

Para as próximas semanas, em confluência com a análise gráfica que aponta a possibilidade do preço se movimentar entre US$ 13 e 12 mil, podemos aguardar que os participantes melhorem os seus preços médios com novas compras com preços menores, reduzindo as perdas e ganhando fôlego para o longo prazo.

DISCLAIMER

Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012

1) Este relatório de análise foi elaborado pela analista de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer ativo. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. O Grupo Ripio não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório. 2) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação ao Grupo Ripio ou e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado. 3) A analista independente está obrigada ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para Analistas de Valores Mobiliários. 4) Os ativos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor. 5) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes. 6) Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da analista. 7) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação a capitalização de mercado, dados on chain e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas. 8) O investimento em criptomoedas é indicado para investidores de perfil moderado e agressivo, O investimento em criptomoedas é um investimento de alto risco e os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros e nenhuma declaração ou garantia, de forma expressa ou implícita, é feita neste material em relação a desempenhos. As condições de mercado, o cenário macroeconômico, os eventos específicos da blockchain e do setor podem afetar o desempenho do investimento, podendo resultar até mesmo em significativas perdas patrimoniais. A duração recomendada para o investimento é de médio-longo prazo. Não há quaisquer garantias sobre o patrimônio do cliente neste tipo de produto. 9) O investimento em Mercados Futuros embute riscos de perdas patrimoniais significativos, e por isso é indicado para investidores de perfil agressivo, ou outro instrumento derivativo, podendo consubstanciar um índice, uma taxa, um valor mobiliário ou produto físico. É um investimento de risco muito alto, que contempla a possibilidade de oscilação de preço devido à utilização de alavancagem financeira.