Em meio ao caos global nos mercados tradicionais, os preços do Bitcoin (BTC) permanecem significativamente estáveis, em uma consolidação desde junho — ou seja, o ativo está há quase 5 meses entre US$ 18 mil e US$ 25 mil. Historicamente, é raro termos os preços do BTC tão estacionários por tanto tempo, e quanto mais a lateralização se estende, maiores são as probabilidades de volatilidade no horizonte.
Neste relatório, vamos partir do preço do Bitcoin na análise gráfica e unir a sua análise aos dados on-chain (dados de rede disponibilizados pela transparência da Blockchain) a fim de entender os movimentos e o comportamento dos players do nosso mercado.
A partir do grande volume financeiro negociado na última vez em que o preço testou o fundo desta lateralização (dias 26 a 28/09, com mínima em US$ 18.471,28), conclui que seria interessante focarmos nossos estudos em indicadores como HashRate, o número de carteiras com mais de US$ 1 milhão em Bitcoin, MVRV e NVT.
As linhas tracejadas em amarelo mostram o topo de US$ 20.475 e o fundo de US$ 18.471,28 atingidos na última quinzena (de 26/09 a 07/10/2022) em continuidade à lateralização que se estende no BTC desde junho, quando atingiu o preço de US$ 17.622.
A semana de 26/09 teve um grande volume negociado ao mesmo tempo em que o preço defendeu novamente a região dos US$ 18 mil e se manteve na faixa dos US$ 19 mil nos dias subsequentes.
Quando observamos o histórico do gráfico semanal, fica mais clara a magnitude do volume financeiro depositado, pois a faixa de US$ 53 bilhões só foi atingida em maio de 2021. Na sequência deste evento, tivemos a queda de 25% do preço, rompendo o range de topo com grande volatilidade, a amplitude do preço rumo aos US$ 30 mil no mês seguinte (junho) e nova ATH (máxima histórica) em novembro do mesmo ano.
Graficamente, tal movimentação nos leva a crer que o fim desta lateralização está mais próximo do fim. A seguir, vamos utilizar os dados on-chain para extrair mais informações deste movimento.
O HashRate é um índice que calcula o poder de processamento total dos computadores que trabalham em um bloco de códigos. Ele verifica qual a velocidade em que as máquinas estão concluindo os seus cálculos matemáticos.
Tal métrica também indica qual o nível de segurança da rede, uma vez que seu valor é diretamente proporcional à dificuldade de localizar os dados na Blockchain. Quanto mais tempo um minerador leva para decodificar um bloco, maior a sua taxa, o que significa uma maior resistência a ataques externos.
O HashRate de mineração de BTC atingiu novos recordes nesta quinzena, atingindo o nível de 244 Exhash por segundo. Tal alta eleva o custo de produção do BTC em um momento em que as receitas dos mineradores acabaram de se recuperar de uma recente capitulação.
É interessante observar que a HashRate efetuava um movimento relacionado ao preço de BTC em dólar durante 2021 — com ambos em ascendência, como mostra a seta verde. Já em 2022, os movimentos de preço e HashRate são inversamente proporcionais, e, neste cenário, qualquer queda significativa de preço da criptomoeda pode levar os mineradores a um estresse de renda agudo e explícito.
Esse indicador é um dos mais interessantes para nós do varejo, pois traz muito do racional das famosas “baleias”, que são os investidores com maior quantidade de Bitcoins acumulados.
Em comparação ao preço de BTC em dólares, observamos que o indicador mostra picos em aproximadamente 65.000 carteiras com saldo superior a US$ 1 milhão em 2022 e, coincidentemente, neste mesmo patamar e nesta última quinzena. Após a máxima histórica em novembro de 2021, este indicador estava em descendência e o movimento atual mostra acumulação dos players nesta faixa de preços da consolidação.
Este indicador é a relação entre o valor da rede e as suas transações. Ele é calculado como uma capitalização de mercado da criptomoeda, sendo dividida por seu volume diário transacionado e cotado em dólar. Quando o NVT está acima de 95,0000 indica sobrecompra, portanto, o preço já está suficientemente valorizado e está próximo de reverter.
Observa-se que este indicador apresenta uma distorção com a análise grafista de preço, já que no dia 26/09, ele indicou 99,2145 acima da linha de sobrecompra e o preço se manteve estável. Esse é um dos motivos em que ainda não podemos afirmar que o grande volume da semana significa um fundo com reversão de alta ou fim da lateralização de preços.
O indicador MVRV é a relação entre market cap (capitalização) e o custo total de aquisição de todos os criptoativos em circulação no mercado.
Na última quinzena, o MVRV demonstrou alta significativa de 0,8670 para 0,9386, o que melhora o custo dos investidores de longo prazo, mas ainda demonstra perdas não realizadas.
Somente quando o MVRV ultrapassa a linha de 1,0000 é que podemos concluir custo favorável para os hodlers, sendo um preço em que eles realizariam lucros caso efetuassem a venda de seus criptoativos.
O Bitcoin continua em lateralização (também chamada de consolidação ou range) de preços desde junho de 2022. A movimentação do gráfico na última quinzena nos revelou volume financeiro elevado na região dos US$ 18 mil.
O depósito deste alto volume (mais de US$ 53 bilhões) na semana de 26/09 se equipara ao movimento de maio de 2021. Após este evento, o preço se manteve fixo em US$ 19 mil nesta quinzena. Graficamente, ainda precisamos que o preço rompa os US$ 21.100 com volume para concluir que tal movimentação seria de reversão para alta.
Ao consultar os dados on-chain, observamos distorção dos indicadores HashRate e NVT com o movimento de preço em dólar. Os demais indicadores analisados não demonstram dados similares ao mês de maio de 2021 durante esta quinzena.
Tudo nos leva a crer que o período de consolidação de preços está mais próximo do fim e que a volatilidade será nossa companheira no médio prazo.
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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012
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