O que está por trás da alta do Bitcoin

Se vivemos dias de baixíssima volatilidade no mês de dezembro já não nos lembramos mais diante da alta de 40% do Bitcoin em janeiro. Esse é o movimento altista mais consistente desde outubro de 2021 e os dados on-chain nos mostram short squeezes e o interesse de novos players como impulso para o BTC.

Paula Reis
Content Creator

Desde o início de 2023, a principal criptomoeda do mercado ultrapassou com facilidade os US$ 21,500 — valor que era considerado como uma forte resistência historicamente — e já é considerada o melhor ativo de 2023 do mundo.

Durante as últimas três semanas o Bitcoin (BTC) oscilou positivamente com poucas correções: ele teve uma forte puxada seguida de uma consolidação entre os US$ 20.200 e US$ 21.600, subiu mais de 8% em algumas horas para então se consolidar no topo entre US$ 22.400 e US$ 23.960,54.

Neste artigo vamos analisar os principais indicadores on-chain a fim de buscar respostas para as perguntas que todos fazem neste momento: o que impulsionou o BTC com tanta força e até onde a alta pode chegar? 

Ao analisarmos volatilidade, os indicadores on-chain com disponibilidade de maiores detalhes e que foram utilizados no artigo de hoje são: Liquidação de contratos futuros; Taxa estimada de alavancagem em futuros; Preço médio de saques em exchanges; Variação de carteiras com saldo acima de USD 1 milhão; e Taxa de Lucro na Saída (SOPR).

O movimento do preço

Entre a mínima de US$ 16.499,01 e a máxima de US$ 23.960,54 do mês de janeiro, o BTC ainda está trabalhando dentro da consolidação macro em que esteve desde junho/2022. Por isso, graficamente ainda não podemos concluir que a moeda está em tendência de alta, mas sim em um movimento muito positivo e de força para romper esse grande range de fundo.

Caso o ativo venha à faixa dos US$ 24.500 e US$ 25.000 com bastante volume, haverá tecnicamente uma tendência de alta.

Linha do tempoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Vector Pro

Algo que é esperado após um movimento de mais de 40% é a correção, podendo atingir os valores de US$ 22.400, US$ 21.500 (agora como um suporte) e US$ 20.400 para, então, encontrar liquidez para uma retomada da alta.

Caso o volume acima dos US$ 24.500 não ocorra e o BTC volte a lateralizar até os US$ 16.500, manteremos a leitura de bear market com possível rompimento do range ao fundo. Neste caso, os alvos projetados seriam US$ 13.400 e US$ 12.000.

Liquidação de contratos futuros

Com o cenário em que estávamos em 2022 e a grande probabilidade de rompimento de fundo em dezembro, é natural que exista grande posicionamento de operações short (venda) acreditando na continuidade do bear market. 

Quando janeiro iniciou com alta em poucos dias, algumas posições short atingem stop loss como uma proteção de perda e outras são simplesmente liquidadas automaticamente, pois a nova volatilidade atualiza as exigências de garantias nas exchanges e o valor antes depositado passa a ser inferior ao necessário para manter a operação de venda — é nesse cenário que muitos entram no chamado "short squeeze".

Até agora houveram mais de US$ 495 milhões em contratos futuros curtos liquidados em três ondas, principalmente com escala decrescente, à medida que a alta do BTC em janeiro avançava.

Na primeira onda de US$ 165 milhões de liquidações de operações short (em vermelho), vemos que 85% dos contratos futuros liquidados eram short contra 15% de contratos longos. Podemos concluir o quanto esses investidores foram pegos de surpresa e como a especulação na queda do BTC era grande, já que esse número foi 10% acima da liquidação imediata de contratos sofrida durante o evento da FTX.

GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Taxa estimada de alavancagem em futuros

Apesar do valor financeiro maior dos stops sofridos no mercado futuro, sabemos que a adoção do mercado futuro, seja para especulação ou para operações de hedge (proteção de carteiras), reduziu desde o segundo semestre do ano passado quando observamos a taxa estimada de alavancagem em futuros: atualmente, ela está em 25%, enquanto que o seu pico foi de 40% em outubro do ano passado.

GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Preço médio de saques em exchanges

Sabendo que muitos adotam a estratégia DCA (Dollar Cost Average) — em que o montante total a ser investido é dividido em parcelas menores, que são divididas em períodos de tempo, buscando um melhor resultado com um preço médio pulverizado —, é interessante observar o indicador de "Preço médio de saques em exchanges", pois ele mostra graficamente o preço médio de aquisição por ano de entrada de cada investidor, iniciando o cálculo em 1º de janeiro de cada ano, e modela uma espécie de base de custo de todos os depósitos DCA.

Interface gráfica do usuário, GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

É possível observar pelas faixas traçadas que, durante a tendência de baixa de 2022, apenas os investidores de 2017 e anos anteriores evitaram atingir uma perda líquida não realizada. A alta atual, no entanto, empurrou o grupo de investidores que tiveram o seu início em 2019 (US$ 21,8 mil) e dos anos anteriores de volta a um lucro não realizado.

Variação de endereços com saldo acima de USD 1 milhão

Este indicador é utilizado para avaliar o comportamento das baleias versus os preços. 

Nesse sentido, percebe-se novamente um pico de 68.000 carteiras nesta faixa. O aumento das baleias representou 186% do número de carteiras com saldo acima de US$ 1 milhão em dezembro/2022, o que nos leva a crer que à medida que o preço foi confirmando a sua micro tendência de alta, mais baleias aumentaram as suas compras no mercado à vista, e que o grande volume que os players com maior patrimônio negociam também contribuíram para que a força compradora aumentasse, servindo como combustível para que a alta continuar.

Fonte: Vector Pro

Taxa de lucro na saída (SOPR)

Mas não só de baleias famintas se sustenta a alta de janeiro. Observa-se pelo indicador de "taxa de lucro na saída" que, no geral, também houve grande realização de lucros no período. 

O SOPR é um indicador on-chain que mostra claramente o sentimento do mercado — ou seja, se os investidores estão lucrando ou perdendo em suas vendas.

Nota-se que as vendas saíram da zona de prejuízo na semana de 19/12, quando o SOPR marcava 0,9795, para a zona de realizações de lucros em janeiro, ao atingir 1,0101.

Toda vez que o SOPR está em 1 ou acima desse número, significa que as vendas efetuadas realizaram lucros financeiros.

Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Vector Pro

Resumo e conclusão

Conforme o final de janeiro se aproxima, é possível perceber que o mercado de criptomoedas como um todo, em especial o BTC, está com uma oscilação positiva de preços mais forte desde outubro de 2021, impulsionada pela demanda no mercado à vista e uma sequência de short squeezes no mercado futuro. 

Esta alta trouxe uma grande parte do mercado de volta ao lucro, e as vendas de curto prazo para a realização deste lucro também atuaram de forma muito positiva para equilibrar as forças de quem estava vendendo para colocar o ganho no bolso e de quem ficou mais confiante ao ver mais de 20% de valorização e resolveu comprar para participar de um movimento ainda maior.

É possível vermos correções de curto prazo em US$ 22.400, US$ 21.500 (como um suporte) e US$ 20.400 para então encontrar liquidez para uma retomada da alta. 

Para uma confirmação de forte tendência de alta, o BTC precisa romper a região dos US$ 25.000 com forte volume, pois mesmo com 40% de valorização em janeiro, ele ainda trabalha nos limites do grande range de fundo do bear market.

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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012

1) Este relatório de análise foi elaborado pela analista de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer ativo. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. O Grupo Ripio não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório. 2) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação ao Grupo Ripio ou e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado. 3) A analista independente está obrigada ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para Analistas de Valores Mobiliários. 4) Os ativos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor. 5) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes. 6) Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da analista. 7) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação a capitalização de mercado, dados on chain e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas. 8) O investimento em criptomoedas é indicado para investidores de perfil moderado e agressivo, O investimento em criptomoedas é um investimento de alto risco e os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros e nenhuma declaração ou garantia, de forma expressa ou implícita, é feita neste material em relação a desempenhos. As condições de mercado, o cenário macroeconômico, os eventos específicos da blockchain e do setor podem afetar o desempenho do investimento, podendo resultar até mesmo em significativas perdas patrimoniais. A duração recomendada para o investimento é de médio-longo prazo. Não há quaisquer garantias sobre o patrimônio do cliente neste tipo de produto. 9) O investimento em Mercados Futuros embute riscos de perdas patrimoniais significativos, e por isso é indicado para investidores de perfil agressivo, ou outro instrumento derivativo, podendo consubstanciar um índice, uma taxa, um valor mobiliário ou produto físico. É um investimento de risco muito alto, que contempla a possibilidade de oscilação de preço devido à utilização de alavancagem financeira.