Em mais uma semana de consolidação de preços do Bitcoin (BTC), percebemos que sempre que ele alcança novos topos na região de US$ 29.000 os comprados efetuam realizações de lucros o que faz com que rapidamente os preços retornem a zona de até US$ 27.000, mantendo este cenário também conhecido como "range" ou "lateralização de preços".
Ainda há muita incerteza na crise bancária americana e seu cenário macro econômico, o que acaba refletindo em todos os mercados, não só nos criptoativos.
Em meio a tudo isso, Conor Ryder, analista e CFA na Kaiko, publicou um artigo sobre a liquidez no mercado cripto e Nassim Taleb, estatístico e analista de riscos autor do livro Antifrágil, que sempre utiliza das mídias para criticar a volatilidade do BTC, a solvência das exchanges e até mesmo os investidores do mercado cripto, aproveitou a análise de Ryder para novamente atacar os hodlers de forma ácida na sua conta pessoal do twitter: “Bitcoin: uma queda severa na liquidez... Os otários do passado estão todos "hodling"; alguns novos otários estão chegando.”
Como Connor Ryder avaliou a liquidez do Bitcoin para concluir que ela atingiu as mínimas dos últimos 10 meses? Ele utilizou do cálculo da profundidade do mercado, que ele considera o indicador mais relevante de liquidez nos mercados de criptomoedas, pois representa a quantidade de ordens realmente esperando para serem atendidos dentro de uma determinada faixa de preço. Ao somar as ordens de compra e venda dentro de 1% do preço médio dos 10 principais ativos em criptomoedas, ele obteve o gráfico abaixo.
Com esse cálculo, nota-se a queda de liquidez logo após o evento do banco SVB Porém, ele mesmo admite que a análise desconsidera o comportamento dos market makers que provêem liquidez ao mercado.
A grande questão é que tanto Taleb quanto Ryder são oriundos do mercado tradicional e tendem a utilizar métricas e expectativas convencionais para avaliar o mercado de criptoativos. De fato, temos menos liquidez neste momento, mas seria mesmo isso algo tão apocalíptico como Taleb diz? Para responder estas questões, nos apoiaremos novamente na transparência e segurança da Blockchain por meio da análise dos dados on chain do BTC.
Neste artigo os indicadores analisados são:
- Volume líquido in/out exchanges
- Volume de Hodlers de Longo e Curto Prazo nas Exchanges
- Lucro e prejuízo realizados
- Receita x Custos dos Mineradores
Na última quinzena de março, o preço do BTC trabalhou na consolidação de topo marcada em amarelo em US$ 26.386,87 e US$ 29.184,68.
À medida que a lateralização se estende, temos queda relativa do volume de negociações (seta amarela no indicador de volume financeiro). Neste cenário de baixa volatilidade e baixo volume, é possível uma distribuição que geralmente é seguida de um novo movimento amplo de preços. Porém é necessário maior volume seja na ponta compradora ou vendedora para que graficamente isso se confirme.
No rompimento acima do retângulo, temos resistências em US$ 30.000 e com alvos mais longos em US$ 32.000 e US$ 34.000.
Caso o rompimento ocorra para uma correção da última alta, temos suporte em US$ 24.400.
Uma forma de avaliarmos a liquidez é justamente observar quanto os investidores aumentaram o volume de moedas depositadas nas exchanges. Nas últimas semanas, os fluxos cambiais líquidos aumentaram em aproximadamente 4,18 mil BTC, o maior aumento líquido desde o colapso da LUNA, em maio de 2022.
Isso sugere que um certo grau de realização de lucros está em andamento, à medida que os investidores tiram as fichas da mesa. Observe no gráfico que momentos anteriores com entradas líquidas semelhantes ou maiores, coincidiram com os principais eventos de volatilidade do mercado, geralmente durante as quedas de preço.
Pelos dados on-chain também é possível separar os Hodlers em dois grupos: de longo e curto prazo e observar seu comportamento enviando ou não seus Bitcoins às exchanges para negociação.
E parece que Taleb estava certo sobre Hodlers antigos se desfazendo de suas posições, o que não necessariamente é um problema de liquidez, mas simplesmente pelo fato de não terem o interesse de realização de lucros ou perdas na saída de suas posições.
Observe no gráfico abaixo que essa métrica nos mostra que os detentores de curto prazo dominam 92,5% dos volumes totais de entrada, com 65% do total sendo posições com lucro.
Os Detentores de Longo Prazo respondem por apenas 7,5% do volume total de depósitos em exchanges, porém 80% de seu volume é lucro, o maior aumento desde meados de 2021.
Para observar o motivo dos Hodlers manterem seus saldos em carteira, medir o lucro/perda realizados é uma técnica poderosa na análise on-chain, a partir dessa métrica, podemos comparar o lucro bloqueado no último mês com a média anual. Aqui, podemos ver que temos o primeiro movimento de impulso positivo desde o ATH entre o período de outubro a novembro de 2021:
No gráfico pudemos observar um total de US$ 320 milhões/dia em lucros líquidos bloqueados. Este é o maior lucro líquido obtido desde maio de 2022, pouco antes do colapso do projeto LUNA-UST. Porém a métrica dos lucros realizados ainda permanece bem abaixo dos níveis típicos do mercado de alta.
Também ficou claro que a gravidade das perdas líquidas também está diminuindo desde julho de 2022. Isso reforça o movimento lateralizado dos preços, em que o mercado parece ter retornado a uma marcha mais neutra e se assemelha a uma estrutura de mercado mais transitória.
No gráfico pudemos observar um total de US$ 320 milhões/dia em lucros líquidos bloqueados. Este é o maior lucro líquido obtido desde maio de 2022, pouco antes do colapso do projeto LUNA-UST. Porém a métrica dos lucros realizados ainda permanece bem abaixo dos níveis típicos do mercado de alta.
Também ficou claro que a gravidade das perdas líquidas também está diminuindo desde julho de 2022. Isso reforça o movimento lateralizado dos preços, em que o mercado parece ter retornado a uma marcha mais neutra e se assemelha a uma estrutura de mercado mais transitória.
Outro dado importante é observarmos a produção dos mineradores, uma vez que a cada Halving, ocorre o ajuste de dificuldade do Bitcoin que é uma das inovações mais marcantes de Satoshi, criando um sistema que busca de forma autônoma o equilíbrio no setor de mineração. Contudo, o maior custo pode levar à queda da produção de novos Bitcoins e à capitulação de mineradores.
Esta métrica aproveita a noção de que tanto as despesas operacionais quanto as de capital são totalmente refletidas na dificuldade de mineração. Portanto, o gasto total estimado em toda a indústria pode ser obtido. O gráfico abaixo apresenta dois traços:
- Em azul, o custo total de produção como uma estimativa do valor gasto para produzir as moedas extraídas a cada dia.
- Em laranja, a receita total dos mineradores como uma medida agregada do valor à vista de cada moeda no momento em que foi minerada.
Observe que após o último Halving, os mineradores passaram por uma boa fase de receita bem acima dos custos e agora ambos trabalham de forma quase que equivalente. O que ainda não é um cenário extremamente ruim como 2015 e 2016, em que o custo era maior que a receita. De qualquer forma, fica claro que a mineração requer planejamento de capital do minerador no longo prazo e não somente num dado isolado de curto prazo.
Num momento de cenário macro tão conturbado, onde o mercado tradicional – bancos – sofrem uma crise que consequentemente impacta na liquidez de diversos ativos, é natural que até o BTC, com uma performance acumulada em 2023 de 2 dígitos, com 72% de valorização em 2023 e 23% no mês de março, seja questionado.
Devemos lembrar que muito do que Satoshi frisou na criação do Bitcoin, como uma solução para riscos e fragilidade do mercado monetário, é exatamente o que se repete na história dos EUA hoje e por isso, quem tem clareza da real importância e uso do BTC, acabou utilizando deste criptoativo novamente como uma reserva de valor em meio ao caos instaurado no segmento bancário em março de 2023 e isso novamente impulsionou seu preço para os US$ 29.000 e todo este contexto traz ainda mais desconforto a seus críticos.
Os dados on chain nos mostraram que à medida que o mercado de BTC faz uma pausa, a realização de lucros pelos investidores está começando a se aquecer. Detentores de curto prazo que acumularam perto das mínimas do ciclo dominam a maioria do comportamento de gastos, embora sua disposição de manter moedas por períodos mais longos seja evidente.
No geral, a maioria do BTC parece estar bastante inativa na rede, sugerindo que os investidores continuam confiantes na tendência de alta para o curto prazo. Graficamente temos algumas incertezas de que a tendência de alta manterá força, o que é um movimento completamente técnico – nem sempre teremos semanas de altíssima volatilidade em BTC.
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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012
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