Neste mês de setembro, acompanhamos a atualização bem-sucedida da rede Ethereum e este será o acontecimento principal que pauta as análises on-chain e marca o lançamento deste relatório.
O intuito deste estudo é unir a análise dos preços dos criptoativos com os dados disponíveis de suas redes a partir da transparência da Blockchain. Utilizar os dados on-chain é uma ótima forma de analisar o comportamento dos investidores no momento atual do mercado.
Em 15 de setembro, às 06:46:46 UTC, na altura do bloco Ethereum 15.537.393, o bloco final minerado em proof-of-work (PoW) foi produzido e a proof-of-stake (PoS) Beacon Chain assumiu o consenso da rede. Pelo gráfico de Média e Mediana de tempo entre cada bloco, pode-se observar o exato momento em que a mineração PoW foi finalizada e a mudança para a precisão projetada de PoS.
Neste relatório vamos entender os indicadores on-chain abaixo e os seus comportamentos após a atualização.
O preço de Ethereum (ETH) perdeu força e deixou de trabalhar na máxima de agosto de US$ 2.030, atingindo a mínima de US$ 1.220 após a atualização. Graficamente, o ETH trabalhava em um pequeno canal de alta desde junho — quando atingiu o preço de US$ 881,56 —, impulsionado pelo otimismo da aproximação do The Merge.
As linhas tracejadas em amarelo marcam o topo e o fundo do mês de setembro. Em 11 de setembro, a moeda atingiu a máxima de US$ 1.789, e, a partir daí, trabalhou na correção de 30% de seu preço até a mínima de US$ 1.220.
O NVT pode indicar sobrecompra ao ultrapassar a linha de 95, sendo um bom indicador para revelar momentos que a relação entre o valor de mercado e o uso da rede está muito distante, sugerindo valores especulativos e possíveis bolhas.
Também em 11 de setembro, esse indicador demonstrou sobrecompra, ultrapassando a linha 95, atingindo os 106. Isso demonstrou que o mercado, no geral, já havia precificado os efeitos da atualização da rede no preço do Ethereum, praticando o famoso “comprar no boato e realizar no fato”.
Os indicadores Inflow e Outflow mostram qual a direção que o fluxo de criptomoedas está tomando.
Ao analisar o indicador Inflow, verifica-se que, na semana da atualização, o volume de ETH na saída das exchanges baixou de 738 mil, em agosto, para o extremo de 154 mil dias antes do The Merge. Isso demonstra que à medida que a Ethereum se preparava para trocar o seu mecanismo de consenso PoW pelo algoritmo de PoS, muitos hodlers decidiram retirar os seus saldos das exchanges para as suas carteiras autocustodiais, porque queriam participar de um possível airdrop na ocorrência de um hardfork. A nova rede foi informalmente nomeada de Ethereum PoW e os saldos spot de ETH em carteiras próprias e exchanges que ofereceram suporte para este airdrop foram bonificados na proporção de 1:1 em ETHPoW.
Em contrapartida, o mesmo indicador atingir 537 mil ETH na semana do dia 15 de setembro mostra o movimento especulativo de quem utilizou da atualização para negociar o criptoativo nas exchanges.
Logo após o The Merge, o indicador passou a operar abaixo do limite inferior de 1,0, indicando a subvalorização do ETH. Este movimento sinaliza que os holders têm uma avaliação de mercado maior do que os especuladores.
Dados históricos mostram que os holders são testados sempre que a MVRV está abaixo de 1, pois se torna menos provável que eles possam vender os seus criptoativos.
As linhas tracejadas em amarelo mostram o topo de US$ 22.799 e o fundo de US$ 18,125 atingidos durante o mês de setembro em continuidade à lateralização que se estende no Bitcoin (BTC) desde junho, quando atingiu o preço de US$ 17.622.
Graficamente, mesmo analisando tempos gráficos maiores, como o semanal, o movimento do preço ainda não demonstra força para uma reversão do canal de baixa, que acumula queda acima de 73% desde a sua ATH em US$ 69.000, em novembro de 2021.
Neste relatório, serão analisados os mesmos indicadores de rede utilizados previamente na análise de ETH, adicionando o indicador SOPR (Proporção de Lucro dos Saldos Gastos, em tradução livre), que demonstra o sentimento do mercado e se os investidores estão lucrando ou perdendo em determinado momento.
O indicador MVRV trabalha em 0,8670, demonstrando que quanto mais o preço se mantém na consolidação próxima aos US$ 20.000, a relação do custo de aquisição dos players se torna mais desfavorável e os mesmos passam a manter uma perda não realizada, pois mantêm os seus saldos em BTC.
Em complemento a este indicador, podemos comparar o preço médio de aquisição por moeda para o grupo STH (🔴) com o preço médio de aquisição LTH (🔵) para comparar os níveis de estresse financeiro.
Ao longo do Bear Market, a depreciação persistente do preço leva o preço realizado do STH a cair abaixo do preço realizado do LTH. No gráfico abaixo, os movimentos de preço que se acentuaram para fora das máximas e mínimas de uma faixa de consolidação destacam o volume exato de moedas que mudaram entre manter um lucro não realizado e uma perda não realizada (ou vice-versa).
O NVT demonstra que em todo o ano de 2022 não houve momento de sobrecompra de BTC, pois sua máxima ficou em 53 mil, trabalhando atualmente em 41 mil – distante da linha dos 95 mil, que demonstra valorização.
O indicador Outflow mostra a saída acentuada de BTC das exchanges em março de 2022. A partir daí, os picos de dados Inflow indicam que cada vez que o preço trabalha nas extremidades de sua consolidação (US$ 25.000 e US$ 22.000), o saldo de entrada de BTC nas exchanges aumenta, demonstrando realização destes players.
Na correção de preços até a mínima de US$ 18.125, é interessante observar o indicador SOPR, pois ele demonstra claramente o sentimento do mercado e se os investidores estão lucrando ou perdendo.
O indicador está exatamente em 1, demonstrando posição neutra de ganhos, principalmente ao se tratar do mercado em Bear Market.
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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012