Em 2022 se tornou comum ouvirmos que o Bitcoin (BTC) está cada vez mais correlacionado ao mercado tradicional. Acompanhamos os movimentos do S&P e da Nasdaq, ou divulgação dos dados macroeconômicos dos EUA, justamente pelo fato de grandes institucionais terem assumido posições no mercado de criptomoedas — tendo como exemplos a adoção de ETFs com cestas de criptos, de ativos DeFi ou de BTC nas bolsas americanas e pelo mundo. O movimento dos grandes players só fortaleceu a compra de Bitcoin pelos investidores que são pessoa física e tudo isso corroborou para as interferências nos movimentos do mercado tradicional e no mercado cripto.
Porém, nas últimas semanas, tal correlação não ocorreu e o BTC continuou a se consolidar, o que tornou a sua faixa de preço cada vez mais apertada e com volatilidade historicamente baixa, na contramão do mercado de ações, do FOREX (mercado financeiro descentralizado) e do crédito americano que apresentaram altíssima volatilidade no mesmo período.
Neste relatório, partiremos do preço do BTC na análise gráfica e seguiremos com a análise de suas métricas on-chain para entender os padrões de comportamento do mercado e a sua estrutura para os próximos dias.
A partir do movimento gráfico que nos leva a crer que o mercado está em distribuição, conclui que seria interessante focarmos os nossos estudos em indicadores como o Score de Tendência de Acumulação, a Volatilidade Implícita das Opções, o Open Interest e o Volume dos Contratos Futuros de Bitcoin.
As linhas tracejadas em amarelo mostram a máxima e a mínima do mês de outubro/2022 até agora. O valor de US$ 20.475 é o topo, enquanto que o fundo é representado pelos US$ 18.190 atingidos na última semana (mais precisamente, no dia 21/10) em continuidade à lateralização que se estende BTC desde junho, quando atingiu o preço de US$ 17.622.
Quando dizemos que a volatilidade está baixa significa que a variação dos preços em um curto período está cada vez menor. Quando isso ocorre, analisamos o volume financeiro — que, no caso, está em queda, como se o interesse do mercado estivesse secando.
Lembre-se de que o volume financeiro é o combustível para que o preço se movimente. É muito comum, nesta movimentação, termos uma discussão entre os grafistas para entender se os players estão acumulando mais criptomoedas neste range — ou seja, comprando mais para ganhar na alta — ou se eles estão distribuindo — ou seja, abrindo as posições vendidas para lucrar com a queda.
Observe no gráfico acima a regra de coloração de candles que prioriza o volume: os candles amarelos, em setembro, mostram um volume maior, enquanto que os candles cinza representam menor volume em outubro, evidenciando que o “tanque de combustível” do mercado está chegando na reserva.
Pois, afinal, trata-se de acumulação ou distribuição? Uma boa análise de fluxo grafista pode nos responder.
Costumeiramente, uma distribuição ocorre após uma grande absorção. Assim, além do preço em consolidação que já temos neste range do mês, precisamos identificar um movimento anterior em que players agridem o preço, aproveitando de uma liquidez espontânea para montar uma grande posição vendida.
Observamos tal movimento nos dois padrões V invertidos com maior volume marcados com as setas no gráfico acima. Note que o primeiro teve volume intermediário (candles amarelos), enquanto que o de setembro teve volume acentuado (candles laranja têm este significado nesta regra de coloração ponderada em volume). Ou seja, graficamente, já houve posicionamento vendido nestes padrões V e a distribuição ocorre numa tentativa de os players finalizarem a montagem de suas posições vendidas.
Resta saber se a leitura dos dados on-chain darão confluência à análise gráfica; se positivo, teremos queda no curto prazo acompanhada de volatilidade.
Essa métrica reflete a intensidade agregada na mudança do saldo de investidores ativos nos últimos 30 dias, onde um peso maior é atribuído aos players maiores.
Ao compararmos a ciclos posteriores de baixa dos anos 2018-2019, podemos observar que a acumulação (zona roxa marcada com círculos A) antecedeu a distribuição (zona amarelada marcada com círculo D). A partir da distribuição confirmada pela métrica, o mercado reverteu a tendência com maior volatilidade em meados de 2019.
Os derivativos das criptomoedas são tão organizados e estruturados como os das ações. Contamos com opções para investidores que desejam abrir posições vendidas ou especular em BTC, além dos contratos futuros, que são mais conhecidos pelos investidores no geral.
O nível da volatilidade implícita das opções atingiu mínimas históricas e, normalmente, isso antecede fortes movimentos, como a queda após ATH de 2021 e o pré-colapso da criptomoeda LUNA.
Para finalizar a análise da posição dos vendidos, outra métrica importante é o nível de alavancagem pelo Open Interest, pois, fatalmente, os players utilizarão de contratos futuros para as suas posições vendidas.
Tal indicador em alta significa aumento de especulação e hedge (proteção de carteiras) no mercado, que aguarda uma definição de preços após o range.
Há uma grande confluência com a leitura gráfica das absorções ocorridas em 2022 quando o indicador nos mostra uma máxima histórica de alavancagem, atingindo mais de 80% desde maio deste ano.
Ainda analisando os dados-on chain de derivativos, temos uma informação mais valiosa: o volume de contratos futuros negociados atingiu mínimas de USD 24 bilhões por dia. Isso retoma os níveis de dezembro de 2020, indicando baixa liquidez do mercado:
Tal métrica, aliada à leitura de alta da alavancagem do Open Interest, nos mostra que se a volatilidade voltar a subir, não haverá liquidez suficiente para cobrir o que os players alavancados realizarão, aumentando ainda mais o movimento de impulso de preços — o famoso stop dos liquidados.
O mercado de BTC, de fato, está preparando um grande movimento. Graficamente, identificamos uma distribuição que antecede um spike (pernada com volatilidade) de baixa. Já os dados on-chain mostram que a grande alavancagem de players e a volatilidade implícita estão atingindo mínimas, e tais movimentos sempre antecederam alta volatilidade e grande variação de preços.
Esta é a segunda quinzena em que as métricas do Bitcoin nos levam a crer que o período de consolidação de preços está mais próximo do fim. As novidades deste relatório são duas e de importância exacerbada:
- a alta volatilidade, num futuro próximo, está confirmada;
- a maior probabilidade de rompimento da consolidação de preços é de queda.
Tal probabilidade não deve ser motivo de preocupação para os investidores hodlers, sendo apenas uma oportunidade de ajuste de estratégia ou de volume investido.
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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012
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