A queda de volatilidade que antecede o estouro

O Bitcoin rompeu o ano com a volatilidade baixíssima. Historicamente, os dados on-chain nos mostram que esse movimento antecede movimentações explosivas do mercado de criptoativos. Seria a alta das últimas semanas o início desta explosão?

Paula Reis
Content Creator

Parece até que o Bitcoin (BTC) resolveu tirar férias junto conosco entre o Natal e Ano Novo, trabalhando com baixíssima volatilidade neste período. O fim de ano tende a ser mais tranquilo em todos mercados, mas, desta vez, tudo foi diferente, o que criou a expectativa de um possível "pump".

Quando falamos de volatilidade, na prática, falamos da variação de um ativo. Logo, quando dizemos que um ativo tem alta volatilidade significa que o seu preço varia muito e de maneira muito rápida. E isso é o que ocorre tipicamente no mercado cripto, em que variações de mais de 10% em um dia trazem uma expectativa como um status quo a todos os investidores e participantes do mercado.

Contudo, o BTC variou numa faixa de preço bem estreita de US$ 600 por mais de três semanas, com uma oscilação maior de 3,4% em sua mínima. 

De fato, à medida que os dias de janeiro foram passando, foi possível perceber "pumps" em alguns tokens, alta considerável em diversas altcoins, BTC e Éter (ETH) saindo da zona de congestão e a baixa volatilidade. 

Nesta edição, vamos analisar os dados on-chain em momentos de anos anteriores similares a este para entendermos o que podemos esperar do movimento atual dos preços. Afinal, esta é a pergunta que não quer calar: até onde irá a alta dos preços? 

Ao analisarmos a volatilidade, os indicadores on-chain com disponibilidade de maiores detalhes, e foram utilizados no artigo de hoje, são: Volatilidade realizada, Volume de transferências, Volume de transferências detalhado por tamanho, e Entrada e saída de fluxo em exchanges.

O movimento do preço

O estreitamento da faixa de preço e a queda de volatilidade dos últimos dias de dezembro ficam ainda mais claros no gráfico. Desde o artigo da semana de 20/12, o preço do BTC se lateralizou na faixa destacada com as linhas tracejadas em amarelo, entre US$ 16.633 e US$ 16.955,14. 

O Bitcoin já trabalhava em range (marcado com o retângulo cinza) desde novembro. Além da redução da faixa de preço, houve queda de volume considerável. Agora, em janeiro, observa-se a aceleração do volume e a volatilidade, onde o extremo do canal de baixa foi rompido, trazendo força para o movimento dos compradores. 

Buscando as próximas regiões de liquidez em US$ 19.400 e US$ 21.500, o preço poderá enfrentar resistência e corrigir até a região dos US$ 17.800.

Pela análise gráfica, mesmo tendo ignição para a alta de curto prazo, só poderemos pensar em reversão e Bull Market quando houver o rompimento com o volume dos US$ 21.500 devido ao grande volume historicamente negociado nesta região, como mostram as setas em amarelo. 

Independente disso, o movimento de janeiro já acumula +27% e não podemos negar que isso acalma os ânimos e pode trazer realizações de lucro para os trades de curto prazo.

Tela de jogo de vídeo gameDescrição gerada automaticamente com confiança média
Fonte: Vector Pro

O Ethereum (ETH) também teve seu momento de baixa volatilidade em dezembro, sendo negociado entre US$ 1.181,06 e US$ 1.237,99. Diferentemente do BTC, ele teve uma absorção de fundo mais clara na semana de 15/12 que, somada à acumulação do período de 20/12 em diante, contribuiu para alta em janeiro de 29,88% até agora. 

No gráfico de 240 minutos, ETH mostra maior probabilidade de lateralização aos US$ 1.500, com faixas de liquidez que podem ser utilizadas como alvos de uma correção em US$ 1.350 e US$ 1.480.

Interface gráfica do usuário, TextoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Vector Pro

Volatilidade realizada

Observa-se pelo gráfico abaixo que períodos de baixa volatilidade antecedem grandes movimentos, caracterizando acumulações ou distribuições. Portanto, nem todo período mais “tranquilo” dos preços significa alta no curto prazo como hoje, pois também houveram ciclos em que essa movimentação antecedeu grandes quedas. 

Examine o patamar de dezembro/22 (linha laranja) da volatilidade realizada. Ao compararmos essa faixa baixíssima com outros períodos temos (marcados pelas áreas em azul):

- Início da alta em 2012-13, em que os preços do BTC estavam entre US$ 5 e US$ 14;

- Fim do Bear Market de 2015 e em vários períodos de alta durante 2016;

- Novembro de 2018, antes da queda de -50% em 1 mês;

- Abril de 2019, antes de um rali de US$ 4,2 mil para um pico de US$ 14 mil em julho do mesmo ano;

- Julho de 2020, na preparação para o que se tornou o maior Bull Market até a ATH (máxima histórica).

Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Volume total de transferências

O gráfico de volume total de transferências — indicador que considera somente as transferências em BTC concluídas com sucesso — mostra que o volume diário retomou o nível dos US$ 5,8 bilhões, sendo similar às transferências feitas em 2020 antes da alta.

Interface gráfica do usuário, GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Volume de transferências detalhado por tamanho

Os indicadores que mostram a potência dos dados de rede são justamente os que trazem o comportamento das baleias (investidores institucionais) de forma transparente, sem que se infrinja qualquer quebra de sigilo bancário, por exemplo. 

O volume de transferências detalhado por tamanho é um indicador similar ao analisado anteriormente (o volume total de transferências), porém, é dividido em faixas de valor (em dólares) transferidos. 

Assim, observa-se que o domínio das transações de mais de US$ 10 milhões foi o principal contribuinte para o declínio das transferências. 

Provavelmente, essa redução significativa nos fluxos de capital de tamanho institucional significa que um sério abalo de confiança está ocorrendo dentro desse grupo.

GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Glassnode

Entrada e saída de fluxo em exchanges

Este indicador é uma ótima forma de avaliar a entrada e a saída de fluxo mais especulativo e o sentimento do mercado como um todo. Caso a entrada esteja maior que a saída, sabemos que o mercado está otimista e com maior pressão de compra. Um fluxo de saída maior mostra players pessimistas, retirando valores do mercado.

Neste caso, percebemos duas informações relevantes:

- Entrada e saída estão com fluxos muito similares, estando praticamente empatados na região dos US$ 14 mil, confirmando a falta de volatilidade e lateralização do preço;

- Desde março/2022 se observa a queda do fluxo de entrada em comparação aos anos de 2020 e 2021.

Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Vector Pro

Resumo e conclusão

Observa-se na segunda quinzena de dezembro uma queda na volatilidade do BTC acima do convencional. Ao analisar este tipo de movimento historicamente, conclui-se que a baixa volatilidade normalmente antecede um grande movimento, seja de alta ou de baixa.

Estatisticamente, ocorreu a volatilidade nas mínimas atuais em 5 situações desde 2012. Destas, somente uma antecedeu uma queda acentuada e as demais ocorreram antes de altas consideráveis ou de uma completa “Bull Run”, como em 2020. 

Ao analisar outros dados on-chain, percebe-se que desde o episódio da FTX, diversas baleias reduziram os seus saldos e a movimentação no mercado de criptomoedas, o que pode ser um fator que contribuiu para a queda da volatilidade. Contudo, essa é uma informação relevante para não tomar como uma verdade absoluta que qualquer queda de volatilidade significa o prenúncio de uma alta. 

A saída de players de grande volume nos lembra que o mercado é dinâmico e está em constante mudanças — ele não é o mesmo mercado de 2013, 2017 ou 2020. Portanto, é sempre preciso encarar cada indicador como uma informação que nos mostra a probabilidade que algo aconteça e que diversos fatores podem simplesmente impedi-lo. 

Neste janeiro, a maior probabilidade venceu, com o seu início num movimento de mais de 20% de alta e confluência das leituras on-chain e gráfica. 

Apenas lembre-se que, graficamente, a região dos US$ 21.500 pode atuar como forte resistência, onde é possível o início de uma correção que pode ser curta, entre os US$ 20.400 e US$ 19.400, ou bem mais longa, em US$ 17.800.

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Paula Martins dos Reis – Analista CNPI-T 3012

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